quinta-feira, 12 de novembro de 2015

ROOM (2015) de Lenny Abrahamson


 As miraculosas interpretações de Brie Larson e Jacob Tremblay fazem de Room um dos filmes mais comoventes de 2015, assim como um dos mais indispensáveis para quem esteja interessado na corrida aos Óscares.




 Room, uma adaptação de um romance de Emma Donoghue dirigida por Lenny Abrahamson, relata a história de uma mãe e filho que, depois de anos aprisionados num quarto, são confrontados com a sua liberdade, que está longe de ser um idílico e romantizado desfecho para o seu tormento. Toda a narrativa se desenrola a partir da perspetiva de Jack (Jacob Tremblay), uma criança de 5 anos que, no início do filme, nunca viu nada do mundo que se estende para além da sua prisão, sendo que inicialmente nem consegue acreditar que tal exterior possa existir. Longe de limitar prejudicialmente o impacto ou complexidade do filme, esta insistência na perspetiva infantil confere à obra uma dimensão trágica onde, mesmo assim, ainda há espaço para alguma esperança e luminosa humanidade.

 Joy (Brie Larson) é a mais fascinante presença em Room, sendo vista unicamente a partir dos olhos de seu filho que muito não conseguem compreender devido à sua ingénua inocência. Isto torna a observação da protagonista maternal num jogo de perceção com a audiência que, mais do que o seu jovem protagonista, consegue ir-se apercebendo de quão estilhaçada pelo seu trauma está a personagem de Brie Larson. Um voz-off constante de Jack vai contribuindo para este gentil retrato dos dois protagonistas, caindo, por vezes, num sentimentalismo desnecessariamente evidenciado tanto pelo texto como pela irritante e melodramática banda-sonora.

 É o seu elenco que permite a Room ser uma obra de glorioso sentimentalismo que, na sua generalidade, consegue evitar o melodrama forçoso sugerido por alguns dos seus elementos. Trembley, com apenas oito anos, cria um dos mais avassaladores retratos do ano, e Larson oferece aqui o melhor esforço da sua jovem, mas ilustre, carreira, sombreando a sua interpretação com momentos de abrasiva frustração, fúria e desespero. O restante elenco é igualmente formidável apesar dos seus limitados papéis, com especial menção para Joan Allen como a mãe de Joy, que em breves momentos consegue estabelecer uma presença tão complicada e multifacetada como a de Larson.

 Infelizmente nem todo o filme prima pela sua complexidade e surpreendente eficácia, sendo que a, já mencionada, banda-sonora é um imparável desastre. Em vários momentos, a música apenas acaba por revelar quão emocionalmente manipulador todo o exercício cinematográfico está a ser, traindo, de certo modo, os esforços do seu elenco e mesmo do ocasionalmente problemático texto. O último plano do filme, por exemplo, perde todo o seu poder emocional devido a um acompanhamento musical demasiado insistente na manipulação chorosa das emoções da sua audiência, quando a simples imagem dos dois protagonistas a se afastarem do quarto titular pela derradeira vez seria suficiente.

 Isto é tão culpa de Stephen Rennicks, o compositor do filme, como de Abrahamson que, especialmente no que diz respeito aos sons, tem uma tendência para o convencionalismo simplista que apenas prejudica a experiência total do filme. No entanto, há que admitir que o realizador tem uma surpreendente capacidade de moldar o espaço com a sua câmara, nunca permitindo que a primeira metade do filme desabe num registo teatral, apesar do seu confinado espaço. A sequência de fuga também revela um bom domínio de Abrahamson no que diz respeito à criação de tensão e adrenalina, não esquecendo o seu foco humano, não fosse Room essencialmente um espetacular exercício de atuação e perseverança humana.

 Room é o único filme norte-americano em competição no LEFFEST’15, e mesmo que não arrecade qualquer prémio na cerimónia de Encerramento do festival, o seu lugar na corrida aos Óscares parece estar cimentado. Brie Larson, em particular, tem vindo a revelar-se como a inicial favorita para o galardão de Melhor Atriz. No entanto, Trembley será tão merecedor de tais honras como a sua coprotagonista, sendo que o jovem ator oferece às suas audiências uma das mais formidáveis interpretações infantis das últimas décadas de cinema. O filme como um todo tem alguns problemas, há que dizer, mas é uma inegável experiência de emoções arrebatadoras, que consegue ser tocante mesmo quando a manipulação emocional é grosseiramente óbvia.


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